quarta-feira, 10 de agosto de 2016

E AS MULHERES FORAM À LUTA!

Tereza Oliveira - foto Sérgio Siqueira

Anos 70 Bahia – Episódio 30

Elas usavam roupas coloridas e perfumes e adereços indianos, unindo o Ocidente ao Oriente. Pouca maquiagem, calcinhas Zazá para o banho de mar, o jeito atirado e desinibido de encarar, os cabelos ao sabor do vento, do sol e do sal. Dogmas do machismo despencaram e não deixaram saudades. As meninas dos anos 70 romperam padrões e chegaram junto, desmontaram os clubes da Luluzinha e do Bolinha. Eram leves, soltas e bonitas de se ver.

Cristina Sá – Éramos alegres, livres, leves, soltas, coloridas e mulheres orgulhosas de nossas conquistas. Era uma geração de mulheres que se impunha, que rasgou regras e criou novos valores, que não tinha medo de ser feliz!

Helenita e Cristina iluminam a exposição fotográfica "Por prazer", de Sérgio Siqueira, no Solar do Unhão. Foto Dalmiro Coronel

Virgínia Miranda – Era simples... apenas éramos...

Sonia Regina Caldas – Maravilha! Nos anos setenta éramos muito menos caretas!

Monica Simões, clicada por Aristides Alves

Veruska Araponga – Ah, eu adorava e curti muito. Roupas, batas, brincos, cabelão livre livre eu solta também.

AMÉLIA ALMEIDA: – “Good is a women”. Essa frase, impressa numa camiseta que Margot Piva trouxe de Londres para mim, em 1980, representou simbolicamente o marco inicial do que viria em seguida: o convite de Margot para criarmos um grupo feminista aqui em Salvador. Nos quatro anos de doutorado em Matemática por lá, ela entrou em contato com as ideias feministas que vicejavam no que seria chamada de 2ª onda do feminismo. Se os ecos do feminismo ainda não reverberavam na Bahia dos anos 70 com força suficiente para a eclosão de um movimento organizado, concepções, valores e expressões dele, já consolidadas na Europa e Estados Unidos, foram captados por muitas jovens mulheres das camadas médias, em especial, abrindo novos espaços e dando lugar a novas posições subjetivas ao ser mulher. O enfrentamento ou o drible nas tradições familiares quanto aos estereotipados papéis de gênero nos propiciou, entre outras conquistas, uma maior circulação na vida da cidade, sobretudo na vida noturna, livre exercício da sexualidade e uma inserção mais precoce no mundo do trabalho.

Chica - foto Sérgio Siqueira

Gabriel Blasko – Parabéns pelas fotos. Lindas, dá para viajarmos no tempo. Moramos hoje no Vale do Capão e por aqui, às vezes, sentimos ainda esse astral nas pessoas que se mantêm lutando pela sua liberdade.

Aninha Franco, Virginia Miranda, Norminha e Marisa Santana. Foto Eva Cristina Freitas

Amália Casal – Memoráveis anos 70, que marcaram gerações.

Fernando Noy – Rose Marie Muraro esteve na Bahia em 1974, pesquisando para seu livro que, depois, teve tanto sucesso. Eu travallhava no DAC da prefeitura, na rua do Bispo, 29, quando a diretora Rosita Salgado Goes me sugeriu acompanhara a Rose Marie para gravar testemunhas com mulheres para seu Relatorio Muraro. Rosita, irmã da preciosa Laís, casada com aquele bailarino magistral Clyde Morgan, é um dos personagens dignos de serem resgatados por seu aporte valiosíssimo para a cultura popular: Festa da cidade, com Maria Bethânia ao vivo no Sucupira, lotado como se fosse carnaval, ingresso livre , lógico. Além disso, os desfiles de ternos de reis, o camarim para Iemanjá no Rio Vermelho, que já não está lá, tantas inumeráveis atividades! As presenças de Batatinha, mestre Caiçara, Irakitan, João Jorge Amado naquele prédio da rua do Bispo, sempre em ação. Assessoravam-na a inesquecível Rosita Salgado Góes, além de Wanda Soledade, as atrizes Jurema Penna e Maria Manuela, entre outras. Logo, já na Fundação Cultural da Bahia, dirigida por Geraldo Machado ainda no Solar de Unhão, também estiveram assessorando sua gestão Myriam Fraga, Eulâmpia Reiber e Zilá Costa Azevedo, entre outras mulheres para se ter em conta naqueles tempos inesquecíveis. Também, já em diversas áreas, criadoras como Carmen Paternostro com o grupo Intercena, no ICBA, Sônia Rangel, Yedamaria, e, logicamente, a fascinante Lia Robatto sempre presente, além da lendária atriz Nilda Spencer, que escrevia uma coluna no jornal Tribuna da Bahia, que todo mundo não deixava de ler... Na área do colunismo social estava o seguro aporte de July, Regina Coeli, Isolda Menezes, Teresinha Muricy, Silvia Maria e a brilhante crítica de artes plásticas Matilde Mattos, que havia formado o grupo Etsedron com o fascinante pintor Edson da Luz. Na UFBA, a grande Dulce Aquino realizava sucessivas Oficinas Internacionais de Danza Contemporânea que lotavam Salvador com dezenas de grandes bailarinos e coreógrafos de todo o mundo, entres eles o magistral Klaus Viana e a adorável Anyel Vianna, além de Graciela Figueroa, que, junto a Lívia Serafim e Mara Borba estiveram entre as primeras vencedoras, quando o encontro ainda tinha a categoria de certame. No TCA estava na bilheteria um ser tão digno de lembrança como Irene, mãe de Ireninha, todas elas sempre no meu coração, corpo e alma... Axéé, Anos Setenta Bahia!!!

Eva, Aninha e Maricota com os pés na areia, nos bons tempos das barracas de praia da rua M, em Itapuã

LUCY DIAS – Os anos 50 viram milhares de moças abrindo caminho para as faculdades. Os anos 60 revelaram mulheres mais informadas e conscientes. E nos 70, finalmente, lutávamos abertamente pelo direito de existir plenamente. (Enquanto corria a barca – pg. 208).

Suzie Maciel de Carvalho

ANAIS NIM – Elas se voltavam para o poeta, o músico, o cantor, o colega de estudos sensível – o homem natural, sincero, sem arrogância, sem ostentação, interessado pelos valores reais e não pela ambição, aquele que odeia a guerra, a cupidez, o mercantilismo e o oportunismo político. Enfim, um novo tipo de homem para um novo tipo de mulher. (Em busca do homem sensível – pgs. 49/50).


Gal em performance - foto Sérgio Maciel

LUIZ CARLOS MACIEL – Yoko Ono oferece uma solução diferente: o que ela chama de “feminização da sociedade” consiste, fundamentalmente, em contrapor um modelo feminino de organização social ao modelo masculino vigente. A intuição, o senso empírico prático, a imaginação e a delicadeza são, entre muitas outras, qualidades tipicamente femininas que se opõem à lógica, à razão intelectual, à  força e à inteligência abstrata, qualidades masculinas [...]. A contracultura é, portanto, o começo da feminização da sociedade e o verdadeiro contexto em que se deve desenvolver o movimento feminino. (A morte organizada – pgs. 43-44).

Helenita em alguma praia dos anos 70 - foto Lula Afonso

ROSE MARIA MURARO – Hoje somos diferentes de nossos avós ainda vivos do que eles foram diferentes do homem pré-histórico. É um mundo velho de dois milhões de anos que está desabando.” (Revista Realidade, abril de 1971).

Mario Di Sante – Viva le donne!

Nilda Spencer e Gessy Gesse confraternizam na casa dela e do poeta Vinicius de Moraes, em Itapuã - foto: arquivo pessoal de Gesse

2 comentários:

  1. minha avó morava no Boulevard Suiço onde eu tb morei nos anos 70 e a casa da Monica Simões era um lugar mágico. fui colega do irmão del no Antonio Vieira onde não durei muito e fui estudar na fábrica o Colégio Santana no Rio Vermelho onde só tinha uns vagabundos malucos.

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  2. E quem sabe da dançarina e coreógrafa Graça Salles quem passou pelo Olodum, Teatro do SESC/SENAC?!?!
    Maravilhosas pessoas-artistas dos anos 70, colegas de palcos, sonhos, lutas e das mãos dadas!!!

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