Anos 70
Bahia – Episódio 13
WALTINHO
QUEIROZ – O Carnaval da Bahia nos anos 70, o carnaval-participação, atraía
jovens do mundo inteiro e o Jacu era um dos atores principais dessa
polarização, bloco líder da utopia, desfilando celebridades como Fafá de Belém,
Pelé, Clara Nunes, Gessy Gesse e outras tantas. Ao lado disso, a minha mãe [Luz
da Serra, artista plástica e figura lendária na sociedade baiana] puxava a
burguesia, o que fazia do Jacu um paradoxo ambulante, que era o todo misturado
e isso é carnaval. (...) O Jaguar, do Pasquim, me disse que a Banda de Ipanema
sabia da existência do Jacu e que nós éramos coirmãos. A coirmã do Rio tinha um
lado cultural bem forte, tanto que manteve viva uma tradição que o Jacu
personificava aqui na Bahia – a postura do bloco de metais, do bloco de sopro –
e fez uma ponte tão grande que, agora, o carnaval espontâneo de rua no Rio está
voltando com intensidade, com esse tipo de formação, que defendi na Bahia em
contraponto ao mundo eletrônico. (Depoimento no livro "Minha vida com o
poeta", de Gessy Gesse, pg. 227).
Fernando Noy – Abração, Waltinho,
na memória da tua admirável mãe Luz da Serra Queiroz. Wally Salomão sempre
brincava, rindo, da coincidência poética e também encarnada do seu nome, luz
volátil, de cima, inesquecível!!!
JOVIANO
PINHEIRO DE MOURA NETO – Já que a Valéria me estimula, vou recordar um pouco
mais do Jacu. Foi como "um rio que passou em minha vida". Ainda te
vejo hoje, despetalando-se em plumas azul turquesa e distribuindo paz, amor e
felicidade, em tom debochado, muito próprio dela mesma, provocando suspiros e
tantos ais da moçada. Para você entender o Jacu, tem que perceber que ele foi
um bloco diferente desde sua criação. Irreverente, mas não irreversível: desde
muito antes de toda esta corrida ecológica, já reverenciávamos aquela ave que
habita as nossas matas. Contestando preconceitos sociais de então,
caracterizava-se em suas faixas o direito à liberdade de expressão. Isto com
todo o "chumbo" daqueles anos. No início, a “cacofatice” das palavras
feriu seriamente a sociedade tradicional baiana e não conseguimos ir muito
longe. Foram todos presos pela Civil. Sentenciados pelo delegado a ficarmos
presos até o final do carnaval, fomos inocentados graças ao recurso jurídico de
um dos nossos amigos, advogado, que no momento me falha a memória e que eu me
desculpo por isto. Como, naquela época, já vivíamos sob a influência francesa do
"é proibido proibir", o Jacu retorna novamente à avenida com um
contingente bem maior que da primeira vez. Daí por diante o bloco ganha vulto e
chega a milhares de participantes. Saindo sempre do Campo Grande, ou melhor, do
tradicional Hotel da Bahia ao cair da tarde, o bloco iniciava o voo rasante no
sábado de carnaval pela Avenida Sete. Lá ia o Jacu, irrompendo como uma
pororoca pela avenida, aguardado pelas meninas ávidas de amor que suspiravam e
iam ao seu encontro incorporando e completando em conteúdo a filosofia do
bloco. Seguíamos como peregrinos andantes, cambaleando mas firmes, ao rufar dos
tambores e do sopro dos metais, entoando aquele enredo que fazia a sua
história. Emocionante e muito lindo! Mulheres, lindas, maravilhosas, turistas
de todos os cantos do mundo encontraram no Jacu aquele abraço sincero, entre
beijos de cervejas e acarajés. O Jacu era o povo nas ruas sem distinção de
sexo, cor ou crença. "Le ce fair moi" de sua própria ordem, nunca
aceitou o isolamento do cordão e dos populares. Todos tinham direito a acessar
o “broco”, desde que trouxessem do fundo do coração amor, paz e alegria!!! (Em
sua homenagem, Valéria!).
PITUCHA
GOLDENSTEIN – Joviano Pinheiro de Moura Neto, dois de meus irmãos fundaram o
bloco, no princípio minha tia fazia as mortalhas e minha mãe a feijoada, foi
meu tio o delegado que soltou os meninos. Na época eu era muito pequena, mas,
com o passar dos anos aproveitei demais essa mara que não volta mais. Um grande
abraço.
PAULO
ROBERTO FERREIRA – O Jacu foi a nossa obra-prima, mais prapular!
SÉRGIO
SIQUEIRA – No primeiro ano que o Jacu saiu, ainda com poucos integrantes, todos
foram presos ao passarem na frente da Secretaria de Segurança Pública com a
faixa: “Há jacu no pau”.
MARIA
PRADO DE OLIVEIRA – "Tomara que este ano eu te encontre de novo..."
SÉRGIO
SIQUEIRA – No meio da praça / no meio do povo / mortalhas encharcadas de
cerveja até o pé / e a boca lambuzada de acarajé.
MARIA
PRADO DE OLIVEIRA – O bloco do povo da Bahia com carinho, que nunca teve corda,
é livre como um passarinho...
CRISTINA
SÁ – Era bacana, porém machista, só os homens participavam...
Geraldo Dias – Na
esquina da igreja de São Pedro com a Av. Sete de Setembro, e logo ali a
Secretatia de Seguranca, na Praça de Piedade: encontro com um grande mercador
da alegria e com um sorrisão de fazer inveja a propaganda de pasta dental,
Carlinhos Santos Pereira, Carlinhos Mocó, amigo, colega de trabalho e parceiro
nas festas da Bahia, segurando uma grande faixa "Há Jacu no pau!"
Grande amigo que, passados cinquenta anos, quando nos reecontramos é aquela
mesma confraternização alegre daquele momento mágico! Cinco minutos depois éramos presos pela polícia! Mas não perdemos nossa fleugma
de foliões! Bendita faixa da mocidade feliz democrática do nosso Antônio
Conselheiro, Waltinho Queiroz!
Charles
Pereira – Geraldo
Dias, nosso Geo Beleza... Esse eu botei no crime!
Luiza
Pinheiro – Os ensaios
pré-carnaval na Barra, comandados pela incrivel Luz da Serra, que levava amigos,
são inesquecíveis!
ANOS 70
BAHIA – Em nota na sua coluna do Caderno B do Jornal do Brasil, em 19 de
fevereiro de 1973, Zózimo Barroso do Amaral informava aos cariocas: “O Bloco do
Jacu, um dos mais tradicionais do Carnaval de Salvador, terá a participação de
Vinicius de Moraes como mestre-sala e Gesse, sua mulher, como porta-bandeira.
Engrossando o bloco, também, a figura do pintor Luís Jasmin”. Bastante
improvável, entretanto, que o regente do “principado livre e autônomo de
Itapuã” concretizasse a previsão plantada na coluna de Zózimo. Em seu livro
"Minha vida com o poeta" (pg. 128), Gessy Gesse revela que “O poeta
nunca participou do carnaval baiano, daquele frenesi com que os foliões se
esbaldam durante os seis dias de festejos momescos em Salvador. Uma vez, em
1970, fomos ao Caju de Ouro, em Feira de Santana (...). A segunda participação
se deu com o que ele fazia de melhor: compôs a música-tema do bloco Os
Internacionais”. A foto em que Vinicius aparece com sua consorte baiana e
amigos, em mesa carnavalesca no Hotel da Bahia, é uma das raras (se existirem
outras) em que se vê Vinicius embrenhado na folia momesca.
SUPERMAIS
NOTÍCIAS – Quem acha que as cordas na folia de Salvador é coisa recente, está
muito enganado. No slogan do extinto Bloco Jacu, criado pela moçada da classe
média na década iniciada em 1960, estava expressa a existência da delimitação:
“Não tem corda, porque tem coração”. (Domingo, 10 fev 2013) –http://supermaisnoticias.blogspot.com.br/…/carnaval-de-salv…
ANOS 70
BAHIA – Em meio à surpreendente dificuldade (no Google, inclusive) para
garimpar imagens do Jacu nos anos áureos, encontramos no Youtube um vídeo
bastante ralado e amador, mas com a pegada que notabilizou o bloco. Contamos
com os parceiros de edição do livro Anos 70 Bahia para que postem imagens do
bloco.https://www.youtube.com/watch?v=807AQqn2xOQ
Elsior Lapo
Coutinho –
Fantástico, muito bom... os ensaios às sexta feiras arrasavam também.
Mara Mar – A mesma época do “Ou dá ou desce”, que
tinha como mascote um papagaio. Saudade.
Rafaela Princhak Magalhães – Tô de saco cheio
da camarotização. Saudade de brincar na rua
Tacilla Siqueira – Detesto
camarote!
Rafaela Princhak Magalhães – Também. Gente
chata, produzida em série. Nada acontece. O povo só quer dar pinta. Affff!
Edmilson Araujo – Amigos, só quem
viu o Jacu sabe da maravilha que era esse bloco. Era lindo ver o Jacu sair do
Campo Grande, onde eu morava, pintar na Avenida 7 e todos gritarem: "Hajacu,
Hajacu", era um delírio! Eu nunca vesti sua mortalha azul e branca, mas
minha irmã saía nele e eu tinha de acompanhar! Bons carnavais!!!
quando acabava o desfile , eu ressuscitava .
ResponderExcluiro último carnaval que passei na minha terra foi em 76 no bloco do Jacu. em cima do caminhão ia a exuberante Marina Montini
ResponderExcluirO Jacú fez parte de minha juventude e é inesquecível pra mim.Jamais vou esquecer. Suetonio Pepe.
ResponderExcluirMeu bloco do coração
ResponderExcluir... que o diga eu, um dos fundadores e Presidente. Já se passaram 57 anos desde
ResponderExcluira sua fundação. Parece que foi ontem. E como diria o Rei "foram tantas as emoções!".
Mário Morgade Cortizo Varela