Anos Setenta Bahia – Episódio 14
O documentário “Deveras”, de Paulo Thiago, começa com Veras declarando
“Detesto o meu primeiro nome!” (Divaldo) – daí todo mundo o conhecer por Veras.
Um entrevistado relata que os barões do cacau acumulavam fortunas e pouco
aproveitavam, e Veras deu-lhes exemplos modelares da arte do bem-viver – e de
gastar sem freios. Outro entrevistado, jornalista, relata ter encontrado o
governador e o ex-governador da Bahia em uma das festas de Veras, comprovando
que o “grand monde” passava pela casa dele: em suas festas misturava a
sociedade, os artistas famosos e quem mais estivesse acontecendo na época. O
documentário fala também que Veras encarnava a anarquia, o deboche.
Carismático, inteligente e culto, era também romântico: em affair que disse ter
rolado com Janis Joplin, preparou para a artista uma cama repleta de pétalas de
rosas para curtirem juntos uma noite de amor.
Com uma história que sugere enredos de filmes, romances e contos de
fadas, Divaldo Angelin Veras transitou do palácio à sarjeta. Em certo momento
da vida separou-se da mulher, vendeu a fazenda que lhe coube e foi para o Rio,
onde torrou todo o dinheiro. E gostava de viver como mendigo, é o que dizia. Na
verdade, era uma espécie de ídolo da “classe”, principalmente por saber inglês,
francês e alemão, o que lhe permitia esmolar com os estrangeiros. Era comum ser
visto no Porto da Barra, numa roda de pedintes, contando casos, recitando
poesias e lembrando sua vida cheia de aventuras. Dizia que a vida é o
inesperado e que dinheiro não é para se perder, é para se usar. Tal como falou,
usou o dinheiro até a última gota e “da maneira mais agradável possível”. No
final da vida, disse que não sentia saudade, simplesmente porque saudade não
paga as dívidas nem afoga as mágoas, apenas cria feridas. E ele não gostava de
perebas.
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Foto Edson Bastos |
ERA LACERDA ENCARNAÇÃO – Antes de ir para o andar de cima, virou
mendigo. E quando as pessoas se chocavam por vê-lo dormindo na calçada do Porto
da Barra, dizia que se sentia feliz assim.
ANOS 70 BAHIA – Ele apareceu certa vez no Fantástico, já morador de rua,
e mostrou as fotos dele com Pelé e outras celebridades. No Porto ele ficava
arrodeado pelos mendigos, contando suas histórias. Encantava!
MARÍLIA CUNHA – E tinha história! Estive com ele aqui no Rio, quando o
Lennie Dale morou com ele, um pouco antes de morrer em NY.
SÉRGIO SIQUEIRA – Os Dzi Croquetes passaram uma temporada na sua
fazenda, em Ipiaú. Isso está registrado no documentário sobre o grupo.
HERALDO LAGO RIBEIRO – Eram o “Casal 20” dos anos setenta em Salvador.
No final da década de 90, já o vi morando com mendigos no Porto da Barra.
Incrível!
YGOR COELHO – Esta é uma história que sempre me impressiona
intensamente, cada vez que leio ou vejo uma referência.
JOSÉ AMÉRICO CASTRO (jornal Giro, Ipiaú) – Nos degraus de um palácio, na verde relva de um
fosso, na desolada solidão do seu quarto, Veras plantou provocações. Percorreu
o mundo, desfrutou luxúrias, promoveu festas imensas, teve “amigos” famosos:
Pelé, Fernanda Montenegro, Amália Rodrigues, Sônia Braga, Carlos Bastos,
Michael Douglas, Lennie Dale, Dzi Croquettes. Morou em Nova York, tinha
apartamento no Leblon, desfilou em carrões pela Avenida Paulista, trajou-se
como príncipe, cortejou mulheres lindas, guapos de encomenda. Tinha aviões e
era habilidoso paraquedista. Nos psicodélicos anos 60/70 foi dono da boate Anjo
Azul, point da vanguarda e fermentação cultural soteropolitana. Ali, em uma
noite de muita loucura, namorou a popstar Janes Joplin a qual, tempos depois,
definiu como “feia e fedorenta”. A roqueira estava passeando na Bahia. Veras
falava cinco idiomas, fazia poesias, colecionava obras de arte e casou-se com
Popó, uma das filhas do milionário Edízio Muniz Ferreira, o maior cacauicultor
individual do mundo. Nas sucessivas orgias “cheirou” toda a fortuna que fisgou.
Ficou duro, mas não perdeu a ternura. Sem grana, foi abandonado pelos famosos;
em compensação, ganhou o acolhimento dos mendigos. No Porto da Barra, em
Salvador, era o único, dentre eles, que pedia esmola em inglês. Isso lhe
garantia a proteção dos demais. Dividia com todos o que recebia dos
gringos.
ERA LACERDA ENCARNAÇÃO – Veras era um homem sensível e gentil. Sei que,
no final, ele estava numa situação bem degradante em Ipiaú. Triste!
MIRIAN MIRA RODRIGUES – Fui procurar no youtube e encontrei: https://www.youtube.com/watch?v=ZtrLnZv7_og
JUCA NUNES NETO – Esse documento ai é o de Paulo Thiago, tem o outro que
é de Edson Bastos, também interessante. [https://www.youtube.com/watch?v=CXNlN6c9T8w]
MIRIAM MIRA RODRIGUES – Triste história para uns, bonita para outros...
contudo, poeta e pensador: “Eu sinto saudade daquilo que eu gostaria de ter, e
sabe o que eu gostaria de ter? Nada!”
GUSTAVO C. FERNANDEZ – Morávamos no mesmo prédio na Vitória, o edifício
“Casablanca”. Ficava tonto quando me deparava com figuras inusitadas no
elevador! Me lembro, ao entrar em sua casa, que de cara me batia com um Cristo
crucificado em tamanho natural! Mas muito silenciosa, agora o cheirinho de
fumo...
Eva Cristina
Freitas – A
festa dos Dzi Croquetes no apartamento da Vitória foi uma loucura, com direito
a ponche batizado com LSD...
Fernando Noy – Oi, Eva, aquele abraço.
Então foi nesse ano que conheci a Lenny Dale no quase esquecido "Panela de
barro". Ele estava com Michel e falamos fascinados do mágico encontro.
Bravo aos Dzi Croquetes e a sua grande amiga Elis Regina, a Gardel com saia. Ja...
Bsbsbs!!!
Eva Cristina
Freitas – Fernando Noy, foi
no mesmo ano da festa de réveillon em Busca-Vida, na casa de Marília
Jatobá.
Anos Setenta
Bahia – Essa
festa foi famosa!
Fatima Barretto – Esta festa eu me lembro!
Marilia Jatoba – Muitas lembranças
maravilhosas dessa época e do nosso querido e carismático Veras.
Barbara Hubert – Meu querido Veras, uma
pessoa educadíssima, gentil, inteligente. Sendo de Ipiaú, convivi em várias
situações... muito querido na cidade.
Dominic Smith – Convivi com ele na
fazenda de João Kleber, em Ipiaú, e em Salvador... tenho música letrada por ele...
preciso achar, ver se encontro... Mea culpa, com o Veras era festa todo dia,
saudades do cara...
Ana Maria Chaves – Grande figura, fanfarrão,
louco, filósofo e de um coração sem igual. Saudades. Amor eterno, Verinhas.
Dóris Abreu – Me lembro perfeitamente
dele no Anjo Azul e, depois, já em dificuldades no Porto da Barra. Sempre
gentil.
Luis Guilherme Pontes Tavares – Estive certa vez no
apartamento do Corredor da Vitória e sai impressionado com a ampla cama com
dossel no quarto do casal. É provável que Jacques de Beauvoir tenha elementos
para construir a biografia de Veras.
Angela Machado – Episódio humano
impressionante
Rosana Dourado – Tive o prazer de conhecer
essa rara figura em suas duas etapas de vida. A leveza e a simpatia nunca o
abandonaram... Valeu, Veras!!!
Elsior Lapo
Coutinho – Grande
Verinhas e Popó. Grande amigo, fazenda linda, toda azul, com araras e cavalos
pampas apaloosa... cansei de ficar com ele, íamos de avião pro Rio, decolava da
fazenda de Alex, seu cunhado... cansei de ver personalidades que chegavam inesperadamente,
adorava como eu uma farra... fui muito também na sua casa de Pedra do Sal,
parecia um palácio romano. Já separando de Popó, era meu vizinho. Tentei ajudá-lo
quando o encontrei mendigo, no Porto da Barra... não quis, disse que gostava do
que estava vivendo. Numa lavagem do Porto nos anos 90 fui apartar uma briga
dele com Maurício Rosemberg, que faleceu há pouco, estava passando um batalhão da
PM, acharam que eu estava na briga e me encheram de porrada, me prenderam no módulo
com 20 pontos no pé até 5 da tarde. Grande figura, um poeta, muito culto,
grande coracão... milionário, gastou tudo na farra. Saudades dele. Aloha.
Silvia Maria Nascimento – Oxe, ele não tinha coisa
alguma; o patrimônio era da herdeira. Ou não?
Elsior Lapo
Coutinho – Realmente
era tudo de Popó, mas ele casou com comunhão e passou a ser dele. Viveu muitos
anos com ela e acabou com quase tudo, pelo que sei.
Silvia Maria Nascimento – Um belo golpe do baú. Mas
como dizia minha vó, “quem herda, faz ...”. Vi a reportagem do Fantástico sobre
ele. Em determinado momento, o repórter pergunta se ele se arrependeu de tudo
que fez (dilapidar a fortuna). Ele diz: “Eu não” – com a voz malemolente – “foi
tão bom...”
Sergio Siqueira – Em uma entrevista sobre
ele, o entrevistado fala que o poder também passava pela casa de Veras e Popó,
ao dizer que numa festa estava lá ao mesmo tempo o governador e o ex.
Mario Mukeka
Cortizo Andion – A
ironia do destino: ele passou a dormir no passeio, o mesmo passeio onde antes botava
sua Mercedes esportiva.
Nino Moura – Conheci o Veras em
1989... nos encontrávamos sempre através de uma amiga em comum, mas não
conhecia a história dele.
Elísio Andrade – Certa vez se perguntou a
ele qual o pior momento naquela vida junto aos mendigos e ele respondeu que era
na hora de comer, pois todos metiam a mão na mesma quentinha!
Fernando Noy – Veras veio me procurar no
seu Mercedes para irmos conhecer a Popó Caldeira Muniz, sua esposa. Aquele palácio
de frente ao mar, perto da casa do adorável Carlos Bastos em Itapuã. Popó era
uma esfinge, mas eles brigaram e eu fiquei com ela quase uma semana, até
ele regressar. Popó tinha ese nome pelo apócope de Po y Po que sempre estava
snifando... Que preciosura o quarto de bonecas repleto de uma centena de
lembranças, da primeira boneca até a última. Durmi na cama desse quarto e Popó
me disse que ia ter um café da manhã muito especial. O que foi? No dia seguinte,
apareceu um grupo de músicos cantando samba como uma seresta na minha janela,
todos de branco. Popó havia preparado um breakfast que nem no Meridien, chá e champanhe
francês. Veras já não regressou, acho, porque depois perdi o fio deles, já que
eu morava, namorava e trabalhava no Centro de Salvador. Depois eu fui visitá-la
e esperava que ela saisse nua do mar para “calzarse” um batom de cetim e enfiar
seu nariz de Nefertiti num espelho, ou seja, o proibido "abebe”! Que, às
vezes, deixava nela aquele bigodes brancos de maxima pureza... Que foi dela???
Cristina Sá – Essas histórias são
deliciosas! Lembro do casal. Chegamos a ir no apê da Vitória com Hamiltinho
Cohin. Depois cheguei a vê-lo mendigo no Porto da Barra, fiquei impressionada,
como era possível... viver do luxo ao lixo!
Marilia Jatoba – Eu também, Cris. A
primeira vez que estive no apê deles, na Vitória, foi com Hamiltinho. Fiquei
encantada com Veras. Gentilíssimo, um verdadeiro anfitrião. Depois que o
conheci melhor, fiquei mais encantada ainda.
Laodicea
Albuquerque Conheci
Veras rico, mas ficamos amigos na epoca em que nada tinha, chegou à minha casa
na ilha 4h da manhã e ficou um tempo. Conversávamos muito, ríamos, ele dizia:
"Filhinha, os gênios são assim, ficam decadentes pela grande sensibilidade...”
declamava poesias, escrevia, ficou um tempo... entre minha casa e a pousada que
Mauricinho Rozenberg tomava conta. Vou ver se encontro poesia e coisas lindas que
ele escrevia... São tantas estórias, mas numa energia boa... tranquilo.... Saudades
sempre!
Tony Coelho – Eu o conheci quando
escrevia a coluna social para a Tribuna da Bahia. Estivemos juntos em festas no
clube privê Regin's e nas noitadas da vida.
Edmilson Araujo – Figura da noite baiana,
todo jornalista boêmio o conhecia por causa de sua famosa boate, o Anjo Azul,
que ficava no Largo Dois de Julho, na Rua do Cabeça.
Meireles Antonio Carlos – A dolce vita... Anjo Azul era feliniano!!!
Veras e Popó ... o tempo em que a Bahia era pura magia...
ResponderExcluirAs imagens de Veras inseridas no documentário Deveras, foram filmadas por Edson Bastos que primeiramente fez o documentário sobre Veras: https://www.youtube.com/watch?v=CXNlN6c9T8w
ResponderExcluirEu tinha 16 anos e fui barrado pelo porteiro do Anjo em um sábado , e o Veras por acaso estava perto e me perguntou , " o que um garoto queria fazer numa boite ?" , eu sem conhece-lo , respondi ; - vim me batizar na noite ! , e na hora ele abriu um sorriso e me disse - sou seu padrinho e meu convidado , vai sentar na minha mesa , a famosa mesa redonda , a única da boite .
ResponderExcluirmeu avô, o italiano Emilio De Gregório tb foi um grande produtor de cacau, minha mãe nasceu em uma fazenda dele em Gandú. perdeu tudo e morreu pobre. era um dos dirigentes da Casa D'Ítália que tinha uma escolinha só para descendentes de italianos onde eu estudei. voltei lá em 2010 onde tirei meu passapirte italiano.
ResponderExcluirA primeira vez que o vi estava sentado num banco da praça Rui Barbosa em Ipiaú, disse que era Alex Muniz, como eu não conhecia Alex, me enganou, rsrs, depois tive outro encontro com ele, neste caso eu passava numa rua, ele sentado num tamborete, de pernas cruzadas, fumando um cigarro, cabelos e barbas amareladas, morando num muquifo onde antes era a "zona" dos dez quartos, um prostíbulo que existiu em Ipiaú, estava esquálido,bem emagrecido, estranhei" Alex Muniz naquela situação? Pouco depois soube que o famoso Veras tinha morrido, ao ver a foto, soube quem era aquele que pensei durante um tempo ser o cunhado rico.
ResponderExcluirNão teve amigos. Teve parasitas. Amigos o teriam ajudado e não assistido sua decadência!!
ResponderExcluir👆Unknown = Lícia Maria da Costa Lino.
ResponderExcluirConheci o Veras em uma fazenda, na região de Santa Teresinha,morava de favor na fazenda de um sobrinho.Sempre muito educado, um dia me convidou para ver seu álbum de fotografias, fique muito impressionado.Muita riqueza e muito luxo estava registrado naquelas fotografias.
ResponderExcluirConhecir está figura quando ainda vivia seu apogeu.
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