domingo, 29 de maio de 2016

BERRO D'ÁGUA


Anos 70 Bahia – Episódio 6


(Fotos acervo pessoal de Charles Pereira)


O charmoso Berro d'Água era o ponto de encontro gastrô na Barra, reunindo gente antenada e descontraída e, não menos, eminências do underground. Lá rolava, além de uma boa conversa, música, arte e performances. Com seu sorriso largo, Charles Mocó recebia como ninguém e o sócio francês mexia bem com a cozinha, fazendo do seu filet au poivre a pedida afamada da casa. Lá estiveram Robert de Niro, Tom Jobin, Vinicius, Luis Jasmin, Mercedes Soza, a Condessa Luana, entre tantos... Sim, reza a lenda que todo mundo passou pelo Berro, que ombreava, em fama (e não no estilo), com o legendário Anjo Azul. A ponte era o Berro e o filé era uma sensação.



Charles Pereira – Era proibido pedir autógrafo no Berro, não se tocava a música do artista se o artista estivesse presente no recinto, artista esperava mesa como um simples mortal, a música era escolhida de acordo com aquela clientela daquela noite, se você pedisse o filé mal passado, o filé vinha para sua mesa mal passado, e a curtição era profissional! Só craques, homens e mulheres. Grande Berro, ali dei boa noite a pessoas incríveis e era assim, as noites eram muito boas com essas pessoas fantásticas que frequentavam o meu, o nosso saudoso Berro d'Água. Alô, Jacques Frappa, o responsável pela culinária, o também responsavel pelo sucesso do Berro. Vou conversar com Sérgio e soltar boas histórias do Berro, sem censura. Aguardem!!

Elsior Lapo Coutinho – Lugar fantástico, comida deliciosa, ponto de encontro da nata da loucura baiana, Charles, Hamiltinho, grandes amigos e anfitriões, cheio de gente bonita, toda noite começava no Berro, melhor lugar da Bahia por muitos anos.


Charles Pereira – Em uma só noite, numa só mesa: Gláuber, Pitanga, Rogério Duarte, Tom Jobim, Luis Carlos Serra (Lampadinha), Sganzerla , Helena Inês, eu, Veras! Fomos parar no Hotel da Bahia...

FERNANDO NOY – Ali curtimos tantas magníficas noites. Levei Mercedes Sosa a beber champagne M. Chandon e, depois, saiu na capa d'O Globo: "Olha aí a lider comunista curtindo numa boa". Mercedes, que estava hospedada de graça na suíte presidencial do hotel Meridien, recebeu um exemplar das maos da RP Cristina Yanguas e, ao ler, primeiro deu uma gargalhada... mas logo depois se enfureceu e mandou jogar no lixo semelhante bobagem, ressentida... Chin chin!, Charles Mocó!

Charles Pereira – Era proibido pedir autógrafo... Mas eu pedi a Mercedes Sosa!

Rafael Sessenta – Na escada, batíamos sempre cabeça em uma viga de madeira, os mais altos... Uma noite, eu, Nilda Spencer, Susan e Carlos Bastos subindo a escada, a peruca dele ficou na viga, ninguém viu, só nós, demos muitas risadas a noite toda, inclusive Carlos. Histórias do Berro...


Charles Pereira – Sessentinha, querido, você também tem uma grande responsabilidade na nossa curtição, Viva a Soaxante! No baianês...

Rafael Sessenta – Mocó e Jacques, dupla perfeita para o sucesso do Berro!

Cristina Sá – Tudo de bom passava pelo Berro! Íamos quase todas as noites, toda semana sem dúvida nenhuma! Lá era o ponto de encontro de velhos e novos amigos, gente bonita sempre! A comida era especial, os filés ao Berro e ao poivre eram sensacionais. Tudo, tudo era um charme só! Esse era o lugar da noite baiana! Mil lembranças inesquecíveis e deliciosas de um tempo maravilhoso!

Era Lacerda Encarnação – Verão da Bahia: Porto da Barra até o pôr do sol, uma chegadinha em casa para um banho e um relax. Vestir roupas belíssimas da Vaca Amarela, da Coisa Paca, de Teca Loura (que vendia umas roupas de extremo bom gosto, que eram pagas em suaves prestações) e... partiu Berro d´Água". Havia muita loucura e muita elegância nesse belo pedaço da Bahia. Depois do Berro, era de lei uma esticadinha ao Club 45 para ouvir Mônica TrócoliCinho Damatta e um cantor acho que uruguaio (desculpem, a memória me traiu... esqueci o nome), acompanhados pela bateria improvisada de Sereia, que que tinha um som da porra! (...) Lembrei também de Jorge Zarat. E eu dava umas canjas, claro! Tempos memoráveis. Obrigada, Charles Mocó!


MARÍLIA CUNHA – Era bom demais! Tinha aquele bar com balcão no meio e as mesas em volta. Só gente maneira! E o filé, uma atração a mais! A Bahia pré-axé!

EVA CRISTINA FREITAS – Ainda tinha aquela batata que acompanhava o filé... senti o gostinho agora! Ai, ai, ai...

MARY WENSTEIN – Era o steak au poivre. Nera?

EVA CRISTINA FREITAS – Tinha também sem o poivre... com batatas gratinadas.

Osmar 'Marrom' Martins – Eu ainda peguei um pouco do Berro. Foi lá que minha querida Leticia Muhana me apresentou a Marina Lima, que estava lançando seu primeiro disco: “Simples como o fogo”.

Manfred Muss – Conheci Emílio Santiago no Berro.

Charles Pereira – Aguardem: Berro d'Água sem Censura! Vou entregar!

Era Lacerda Encarnação – Vai entregar tudo, Charles? Viiixe!!!

Charles Pereira – Vou entregar as receitas dos molhos... fique tranquila, você Era da igreja!

Barbara Hubert – Saudades de você, meu querido Charles, tô indo em junho para o Brasil. Vou te procurar.

Charles Pereira – Babita, você, Aninha, Legal e Xoxinha foram os primeiros clientes do Berro. Lembra disso? Eram só cinco mesas e a “festa" já era boa!!!


LUIZ CARLOS SÁ – Vagando ali pelo Porto da Barra, acabamos por encontrar um bar que nos acolhia sob medida: o Berro D’Água, de Carlinhos Mocó. Carlinhos concordou em nos fiar a bebida e a comida até que o tal direito autoral nos alcançasse, pelos lentos e complicados canais bancários da época. Numa daquelas noites sem fim do Berro, encontramo-nos com nosso querido Lulu Melô, o Luiz Melodia. Engrenamos papo noite afora, nos macios sofás do bar. Algum tempo depois do Melodia ter ido embora, chegou um outro amigo para sentar conosco e eu me cheguei mais pro lado. Senti alguma coisa me incomodando e levantei as almofadas para ver o que era. Qual não foi minha surpresa ao dar de cara com alguns pacotes de dinheiro vivo, digamos, o que hoje seriam uns dez mil reais. Naqueles tempos de cruzeiro velho, um bolo enorme de dinheiro! Às gargalhadas, fui jogando a grana pra cima da mesa. Mocó e Guarabyra me olharam, perplexos:

– Cara! O que é isso?

– Não sei! Achei aqui embaixo da almofada, he, he, he...

Começamos todos a falar ao mesmo tempo, especulando de onde teria vindo aquilo. Mocó negou que fosse do bar. Finalmente chegamos a uma conclusão:

– Só pode ser do Melô! É o cachê dele!

Mocó ligou pro Luiz e confirmou a perda. Seu empresário fora embora do bar mais cedo e deixara o dinheiro com ele. Sem bolsa, Melô escondera a grana de-baixo da almofada...
– Acredita que ele só deu pela falta da grana já no quarto do hotel... (Trecho de matéria no blog de Luiz Carlos Sá).

Charles Pereira – Rsrsrs... essa história do Melô é muito boa. Melô bebia Blood Mary com muita pimenta do reino. Tenho boas do meu amigo Melô, ótimas...

Mary Weinstein – O Berro devia voltar

Charles Pereira – Alô, Mary. Com meu temperamento, a idade não é compatível...


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