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Foto do arquivo pessoal de Gessy Gesse |
Anos 70 Bahia – Episódio 7
Depois que a atriz baiana
Gessy Gesse trouxe Vinicius de Moraes para morar na Bahia, a casa que
construíram em Itapuã tornou-se ponto de encontro de celebridades do calibre de
Jorge Amado, Dorival Caymmi, João Gilberto, Gláuber Rocha, Carlos Bastos, Mário
Cravo, Calazans Neto, Chico Buarque, Toquinho, Mercedes Soza e tantos outros
que aqui chegavam ou aqui moravam. O magnetismo místico-cultural da Bahia foi
guindado ao foco da mídia nacional, imortalizando Itapuã como "Principado
livre e autônomo" e nicho artístico, com seu charme e beleza decantados em
prosa e verso por um Vinicius que recobrara, na boa-terra, a plenitude da
inspiração.
Em seu livro de memórias lançado em 2013, “Minha vida com o poeta”, Gesse relata vários trechos ilustrativos das peripécias dos Anos Setenta. Um exemplo, na página 69: “Era o fino, na época, frequentar o lendário Anjo Azul, cuja latrina era um trono. O drinque mais apreciado era o Xixi de Anjo, e das paredes nos contemplavam as pinturas profanas e celestiais de Carlos Bastos. Frequentar o Anjo era definitivamente uma questão de status. E como na Bahia tudo é permitido – segundo Thiago de Mello, até caminhar pela tarde com uma imensa begônia na lapela –, tem uma figura desse folclore com quem me deparei um dia, na Barroquinha, com a saia enorme e rasgada e um retrovisor de fusca na testa. Ela me parou, pediu um cigarro e se transformou em... Baby Consuelo”.
Em seu livro de memórias lançado em 2013, “Minha vida com o poeta”, Gesse relata vários trechos ilustrativos das peripécias dos Anos Setenta. Um exemplo, na página 69: “Era o fino, na época, frequentar o lendário Anjo Azul, cuja latrina era um trono. O drinque mais apreciado era o Xixi de Anjo, e das paredes nos contemplavam as pinturas profanas e celestiais de Carlos Bastos. Frequentar o Anjo era definitivamente uma questão de status. E como na Bahia tudo é permitido – segundo Thiago de Mello, até caminhar pela tarde com uma imensa begônia na lapela –, tem uma figura desse folclore com quem me deparei um dia, na Barroquinha, com a saia enorme e rasgada e um retrovisor de fusca na testa. Ela me parou, pediu um cigarro e se transformou em... Baby Consuelo”.
GESSY GESSE – Vinicius
nunca escondeu que foi João Gilberto quem o convenceu a cantar em shows e
apresentações. Até então o poeta soltava a voz no máximo em meio a amigos. Mas
sobre João, folclórico como ele só, não dá para esquecer o que aconteceu uma
noite em Itapuã – foi em uma casa alugada, a nossa ainda não estava pronta.
Eram umas duas da madrugada e estávamos na mesa, tomando um uisquinho, quando
ouvimos uma voz estranhíssima do lado de fora, parecia coisa do além. Falei
para Vinicius: “Tem alguém aí!” Corremos para ver o que era e encontramos João
Gilberto meio atravessado, preso no portão. Ele havia descoberto onde estávamos
e resolveu nos procurar àquela hora, tentou pular o muro e não deu, acabou
enganchado no portão e ficou lá gritando “Vininha!” Vinicius se aproximou e
exclamou, surpreso:
– Ora, mas é Joãozinho!
Entre, João!
Ajudamos João Gilberto a se
soltar do portão, ele entrou e o papo durou até o dia amanhecer. ("Minha
vida com o poeta", pg. 199).
FERNANDO NOY – Gessy encantadora... Eu cheguei na Bahia por causa de Vinicius. Aqui [Buenos Aires], a barra estava ficando muito brava e tinham assassinado um grupo de amigos na ditadura. Meu pai me disse para viajar para a França, onde morava minha bisavó Marie Neully de Picard. Mas, uma noite, Ginamaria Hidalgo, cantora alucinante argentina, me pediu acompanhá-la à embaixada para ver uma dupla: eram Vinicus e Toquinho... Quando cantaram "Você conhece a Bahia", eu perguntei aonde era... já sabia, minha voz alertava que esse era o lugar... estava lá uma amiga de Rogério Duarte, o grande Rogerio Duarte, que me deu o endereço de um sítio perto de onde morava Matilde Mattos, na Armação... Ali, então, uma noite cheguei e me ofereceram uma grande boas-vindas sem saberem quem eu era, nem nada disso. Fiquei alguns dias, até que parti para Arembepe, levado pelas mãos de Vera, Vera de Arembepe, celebridade daqueles tempos, dona de uma cabana branquíssima e depois.... o prazer infinito!!!
Gustavo Augusto –
Grande Vera de Arembepe! Querida! Fiquei em sua casa com a inesquecível Mary
Louca
Anos Setenta
Bahia – Mary Louca... lembro desse nome, não consigo visualizar –
memória 70 falhando... Gustavo, você tem grandes histórias – estamos
fazendo um livro a 100 mãos – conte algumas!
Gustavo Augusto –
Nesse último dia, eu e Mary não fomos a praça. Conhecemos uns paulistas no
camping de Itapuã e estávamos há tantos dias sem dormir que apagamos sem querer
na barraca deles. Acordamos de madrugada, com o movimento da Federal prendendo
o Mariel Mariscot, que estava escondido numa barraca próxima. Corremos então
para a Praça Castro Alves, para o fim da terça-feira gorda.
Raimundo Matos
de Leão – O texto me fez lembrar de Álvaro Guimarães, diretor de
"As Feras", texto de Vinicius de Moraes. Gessy Gesse estava no elenco,
completado por Fernando Lona, Jurandir Ferreira, Armindo Bião, Mário Gadelha,
Sonia dos Humildes e por mim. Trabalho corporal de Clyde Morgan. A encenação,
com cenário de Calazans Neto, foi montada num barração que havia na rua dos
Ingleses. Data: janeiro e fevereiro de 1974.
Artur Carmel –
Foi em Itapuã, com Gessy Gessy, que Vinicius encontrou seu 'elo perdido'...
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