Anos 70 Bahia – Episódio
17
No Brasil, em primeiro
lugar, Bahia – santificada pela re-presença de Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Na Bahia, Itapuã, Trancoso e sobretudo Arembepe (...). Ou, nas palavras de
Chacal, o caminho de São Thiago dos desbundados, que incluía o Carnaval em
Salvador, seguido de peregrinação a Itapuã e Arembepe. “Lá, vivendo em cabanas
de pescadores entre o mar azul e a lagoa verde, dentro de uma paisagem idílica
e selvagem, jovens fugidos da cidade viviam com simplicidade e liberdade,
comendo frutos e peixe frito, tocando violão, namorando, fumando maconha,
viajando de ácido e conversando, conversando, conversando enquanto o tempo
parecia não passar” (Nelson Motta em Noites
tropicais, Objetiva). Trecho do capítulo ‘Lugares desbundados’, pg. 144 do
livro Almanaque Anos 70, de Ana Maria
Bahiana.
BETO HOISEL – Além dos fazedores
de colares, em Arembepe tinha de tudo. Astros e estrelas do show-business
apareciam de vez em quando, agitando por um ou dois dias; um
cientista-professor da USP; um escritor muito singular – que eles estavam
procurando –; um pintor de grande talento e altíssimo astral e uma
simpaticíssima viúva ex-rica do society paulista que, tendo driblado um câncer
anos antes, reconsiderou o que estava fazendo da vida, aderiu ao flower power e
esqueceu completamente a doença (...). Mas todo mundo vestia a caráter, com
batas coloridas, saias de batik, jaleco decorado, colares de conchas e
espelhinhos; não era fácil distinguir quem era mesmo pé na estrada de quem era
hippie amador. Aliás, ninguém estava interessado nessas distinções e foi fácil
assumir sem problemas. (Naquele tempo em
Arembepe, pg. 29).
Rita Lee em Arembepe 70 - foto Wagner Berber
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FERNANDO NOY – Joel Macedo
me levou no seu carro Citroen a conhecer Arembepe. Fiquei fascinado com aquele
lugar. Só tinha um armazém – de Dona Deya. Joel, ao ver que Cândido Alencar
ficou amigo meu, ali me deixou. Com Cândido estava uma viajeira terrena e
cósmica espanhola, chamada Camino. Ela me ofereceu um dos seus ácidos
maravilhosos chamados ‘open window’. A casa de Cândido estava em diagonal à
pousada de Missival. Uma kombi muito cheia de símbolos mágicos estava com
alguns xamãs mexicanos, em frente ao mar. O LSD bateu muito forte e me senti
atraído por esses estranhos personagens que falavam perfeitamente o espanhol.
Cheguei até a kombi no meio de um autêntico "sabbath" e vi uma
espécie de medium mexicana, com as pernas em lotus, que me chamava. Quando
fiquei de perto, ela alçou sua longa mata de cabelos e escutei o riso
inconfundível de quem os hippies veneramos para sempre. Ela estava possuída
pela alma de Janis Joplin, que havia passeado por ali poucos anos antes de sua
partida deste plano, deixando seus discos para adorar. Este episódio se deu
aproximadamente em 1974. Ao ver que ela, de alguma maneira, se estava
conectando, me emocionei até o pranto puro. Então, os mexicanos me tiraram dali
quase de arrastão. “Que se passa?”, perguntei. “Não, nada mal, claro que ela
está com Janis mas não gosta lembrar que morreu há pouco tempo”. Voltei à casa
de Cândido, que tinha a fachada feita de espelhos e caracois. Contei a Camino o
que se passara. Ela me pediu para acompanhá-la a uma aldeia de pescadores que
ficava ali perto, assim esqueceria do incidente. Então chegamos lá caminhando
pela beira do mar e olhando outros planetas. Na verdade, o LSD que ela tinha
era uma viagem incrível no meio dos tempos e espaços jamais vistos. Entrei na
lagoa da aldeia e ali estavam Maria Esther e José Agrippino, em momento em que
o sol caía e deixava tudo dourado. A trip começou a deixar de bater mas sempre
lembro de este encontro mágico, incrível mas real.
FERNANDO NOY – Em tempo: a
palavra ‘conectar’ está mal escrita... e que fique claro, por favor, que o xamã
me disse: “Janis não quer lembrar que está morta.” Obrigado... e tenho mais no
baú de elefoa que pronto enviarei...
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Fernando Noy |
DOMINIC SMITH – Tomei
varios desses, acho que até um você me deu... fomos andando do Campo Grande ate
o Pelô, onde você tinha um apartamento. Emoticon smile...
ELSIOR LAPO COUTINHO – Fiz
várias viagens desta por lá em 73, 74, 75... era muito mágico.
CARDAN DANTAS – O texto
muito bem alinhado com a época. Que Fernando não esqueça de escrever o seu
livro de memórias, a juventude é merecedora de conhecer esses momentos
fantásticos de uma geração... felicidades sempre...
DULCE MARIA FERRERO – Eu
conheci uma mulher incrível quando morei em Tarifa, Andaluzia, chamada Camino. Fiquei
seduzida pela idéia de ser a mesma pessoa; ela tem uma história de vida
incrível!
FERNANDO NOY – Exatamente,
Dulce Maria Ferrero, Camino era andaluza... Quanto tempo já que voce a viu?...
Axeee e Bsbsbss!!!
DULCE MARIA FERRERO –
Madremia, Noy, tu ahora me acordado de una persona muy especial, ella y su
hermana Ana... Camino tiene una casa genial, cinematográfica cerca de Tarifa,
voy a mirar si tengo algunas fotos della. Yo he vivido en Tarifa por 4 años y
Camino y Carlos (creo ser el nombre de su marido) hacían fiestones increíbles
por alla.
FERNANDO NOY – Ela é uma
das mulheres mas fantásticas que conheci na casa de Cândido, em Arembepe... e
jamais esquecerei Dumar... beijões!!!
DULCE MARIA FERRERO – Ela,
como Esther e Agrippino, também perdeu sua filha, creio que em um acidente
automobilístico.
FERNANDO NOY – Dulce Maria
Ferrero, nada feliz com isso... que sina fatal... e seguramente foram amigos,
já que José e Maria Esther também foram amigos de Cândido, além de mim e de
ti... saudades e saúde!!!
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Foto Lula Afonso |
Cristiano
Loureiro – Grande
Manú!
Anos Setenta
Bahia – Vestiu
os Doces Bárbaros, grande estilista, faleceu há pouco tempo.
Cristiano
Loureiro – Conheci
muito! Com meu pai e minha mãe na década de setenta e no dia a dia em Arembepe,
pouco antes dele partir. Ele estava responsável pela caminhada gay em Arembepe.
Gildasio
Carvalho – É
preciso cuidado com as informações de Nelson Mota sobre o que ocorreu na Bahia.
Fernando Noy – Manu, que grande artista,
criador absoluto. Eu vi ele trabalhar trançando búzios, palhas, conchas,
espelhos, tudo o que depois foi o vestuário dos Doces Bárbaros... Não sabia da
sua viagem e fiquei estremecido porque no ano passado, quando estive na Bahia,
liguei para a pousada de Missivau, onde Aninha Franco me dissera o poderia
achar... mas foi impossível... Uma reza forte para esse maravilloso e grande
mesmo!!!! MANU con M de mágico, A de artista, N de nosso e U de único!!!!
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