domingo, 12 de junho de 2016

O CAMINHO DE SÃO THIAGO DOS DESBUNDADOS

O saudoso estilista Manu, figura lendária dos anos 70 em Arembepe, nos deixou recentemente...

Anos 70 Bahia – Episódio 17

No Brasil, em primeiro lugar, Bahia – santificada pela re-presença de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Na Bahia, Itapuã, Trancoso e sobretudo Arembepe (...). Ou, nas palavras de Chacal, o caminho de São Thiago dos desbundados, que incluía o Carnaval em Salvador, seguido de peregrinação a Itapuã e Arembepe. “Lá, vivendo em cabanas de pescadores entre o mar azul e a lagoa verde, dentro de uma paisagem idílica e selvagem, jovens fugidos da cidade viviam com simplicidade e liberdade, comendo frutos e peixe frito, tocando violão, namorando, fumando maconha, viajando de ácido e conversando, conversando, conversando enquanto o tempo parecia não passar” (Nelson Motta em Noites tropicais, Objetiva). Trecho do capítulo ‘Lugares desbundados’, pg. 144 do livro Almanaque Anos 70, de Ana Maria Bahiana.

Roman Polanski e Jack Nicholson em Arembepe  foto Jessel Buss

BETO HOISEL – Além dos fazedores de colares, em Arembepe tinha de tudo. Astros e estrelas do show-business apareciam de vez em quando, agitando por um ou dois dias; um cientista-professor da USP; um escritor muito singular – que eles estavam procurando –; um pintor de grande talento e altíssimo astral e uma simpaticíssima viúva ex-rica do society paulista que, tendo driblado um câncer anos antes, reconsiderou o que estava fazendo da vida, aderiu ao flower power e esqueceu completamente a doença (...). Mas todo mundo vestia a caráter, com batas coloridas, saias de batik, jaleco decorado, colares de conchas e espelhinhos; não era fácil distinguir quem era mesmo pé na estrada de quem era hippie amador. Aliás, ninguém estava interessado nessas distinções e foi fácil assumir sem problemas. (Naquele tempo em Arembepe, pg. 29).



Rita Lee em Arembepe 70 - foto Wagner Berber

FERNANDO NOY – Joel Macedo me levou no seu carro Citroen a conhecer Arembepe. Fiquei fascinado com aquele lugar. Só tinha um armazém – de Dona Deya. Joel, ao ver que Cândido Alencar ficou amigo meu, ali me deixou. Com Cândido estava uma viajeira terrena e cósmica espanhola, chamada Camino. Ela me ofereceu um dos seus ácidos maravilhosos chamados ‘open window’. A casa de Cândido estava em diagonal à pousada de Missival. Uma kombi muito cheia de símbolos mágicos estava com alguns xamãs mexicanos, em frente ao mar. O LSD bateu muito forte e me senti atraído por esses estranhos personagens que falavam perfeitamente o espanhol. Cheguei até a kombi no meio de um autêntico "sabbath" e vi uma espécie de medium mexicana, com as pernas em lotus, que me chamava. Quando fiquei de perto, ela alçou sua longa mata de cabelos e escutei o riso inconfundível de quem os hippies veneramos para sempre. Ela estava possuída pela alma de Janis Joplin, que havia passeado por ali poucos anos antes de sua partida deste plano, deixando seus discos para adorar. Este episódio se deu aproximadamente em 1974. Ao ver que ela, de alguma maneira, se estava conectando, me emocionei até o pranto puro. Então, os mexicanos me tiraram dali quase de arrastão. “Que se passa?”, perguntei. “Não, nada mal, claro que ela está com Janis mas não gosta lembrar que morreu há pouco tempo”. Voltei à casa de Cândido, que tinha a fachada feita de espelhos e caracois. Contei a Camino o que se passara. Ela me pediu para acompanhá-la a uma aldeia de pescadores que ficava ali perto, assim esqueceria do incidente. Então chegamos lá caminhando pela beira do mar e olhando outros planetas. Na verdade, o LSD que ela tinha era uma viagem incrível no meio dos tempos e espaços jamais vistos. Entrei na lagoa da aldeia e ali estavam Maria Esther e José Agrippino, em momento em que o sol caía e deixava tudo dourado. A trip começou a deixar de bater mas sempre lembro de este encontro mágico, incrível mas real.

FERNANDO NOY – Em tempo: a palavra ‘conectar’ está mal escrita... e que fique claro, por favor, que o xamã me disse: “Janis não quer lembrar que está morta.” Obrigado... e tenho mais no baú de elefoa que pronto enviarei...

Fernando Noy

DOMINIC SMITH – Tomei varios desses, acho que até um você me deu... fomos andando do Campo Grande ate o Pelô, onde você tinha um apartamento. Emoticon smile...

ELSIOR LAPO COUTINHO – Fiz várias viagens desta por lá em 73, 74, 75... era muito mágico.

CARDAN DANTAS – O texto muito bem alinhado com a época. Que Fernando não esqueça de escrever o seu livro de memórias, a juventude é merecedora de conhecer esses momentos fantásticos de uma geração... felicidades sempre...

Dona Coló comenta sobre os agitos dos anos 70, quando aparecia gente de toda parte do mundo e seu restaurante era o ponto certo do rango na vila. No mural, fotos da Arembepe dos velhos tempos, quando ela servia (e ainda serve) a boa comida de pescador a visitantes das redondezas e até a alguns americanos que aqui faziam estudos. São deles esta foto em preto e branco.

DULCE MARIA FERRERO – Eu conheci uma mulher incrível quando morei em Tarifa, Andaluzia, chamada Camino. Fiquei seduzida pela idéia de ser a mesma pessoa; ela tem uma história de vida incrível!

FERNANDO NOY – Exatamente, Dulce Maria Ferrero, Camino era andaluza... Quanto tempo já que voce a viu?... Axeee e Bsbsbss!!!

DULCE MARIA FERRERO – Madremia, Noy, tu ahora me acordado de una persona muy especial, ella y su hermana Ana... Camino tiene una casa genial, cinematográfica cerca de Tarifa, voy a mirar si tengo algunas fotos della. Yo he vivido en Tarifa por 4 años y Camino y Carlos (creo ser el nombre de su marido) hacían fiestones increíbles por alla.

FERNANDO NOY – Ela é uma das mulheres mas fantásticas que conheci na casa de Cândido, em Arembepe... e jamais esquecerei Dumar... beijões!!!

DULCE MARIA FERRERO – Ela, como Esther e Agrippino, também perdeu sua filha, creio que em um acidente automobilístico.

FERNANDO NOY – Dulce Maria Ferrero, nada feliz com isso... que sina fatal... e seguramente foram amigos, já que José e Maria Esther também foram amigos de Cândido, além de mim e de ti... saudades e saúde!!!

Foto Lula Afonso

Cristiano Loureiro – Grande Manú!

Anos Setenta Bahia – Vestiu os Doces Bárbaros, grande estilista, faleceu há pouco tempo.

Cristiano Loureiro – Conheci muito! Com meu pai e minha mãe na década de setenta e no dia a dia em Arembepe, pouco antes dele partir. Ele estava responsável pela caminhada gay em Arembepe.

Gildasio Carvalho – É preciso cuidado com as informações de Nelson Mota sobre o que ocorreu na Bahia.

Fernando Noy – Manu, que grande artista, criador absoluto. Eu vi ele trabalhar trançando búzios, palhas, conchas, espelhos, tudo o que depois foi o vestuário dos Doces Bárbaros... Não sabia da sua viagem e fiquei estremecido porque no ano passado, quando estive na Bahia, liguei para a pousada de Missivau, onde Aninha Franco me dissera o poderia achar... mas foi impossível... Uma reza forte para esse maravilloso e grande mesmo!!!! MANU con M de mágico, A de artista, N de nosso e U de único!!!!

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